segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Antiga Tradição, Procissão de Nossa Senhora da Purificação pode perder identidade secular

Imagem da Padroeira da Cidade, Nossa Senhora da Purificação:
Patrimônio e Símbolo de devoção dos Santoamarenses

Conhecida como a maior prova de devoção de Fé católica no Recôncavo da Bahia e famosa nacionalmente por sua grandeza, a festa religiosa de Nossa Senhora da Purificação, em Santo Amaro, sofrerá alterações significativas em seu ponto máximo esse ano: a sua majestosa Procissão.

Famosa e admirada por seu imponente cortejo, que reúne sociedade civil, organizações religiosas, filarmônicas e grande número de imagens, a Procissão que ocorre no dia 02 de fevereiro sofrerá alteração em sua composição. É que a partir desse ano, o número de imagens será restrito, a pedido do Monsenhor Walter Jorge Pinto Andrade, Pároco da Purificação, contribuindo assim para a perda da identidade maior da procissão que é exatamente o desfile de grande quantidade de imagens seculares, patrimônios artísticos e símbolos de fé de um povo.

Segundo o Pároco, os fiéis não se comprometem a carregar as imagens durante o cortejo, principalmente as mais pesadas. Por essa razão, a partir de 2013, o fiel que desejar que sua imagem de devoção saia na Procissão do dia 02  precisará informar o nome de 08 pessoas na secretaria da igreja e ser responsável pela ornamentação do andor, assinando inclusive um termo de compromisso.

“É ridículo para o Padre Zé Carlos ficar chamando pessoas para carregar os andores”, afirma o pároco. O mesmo ainda comenta que, se dependesse de vontade particular, apenas as imagens do Padroeiro Sr. Santo Amaro, do Sr. Do Bonfim e de São Francisco de Assis sairiam no cortejo, além da imagem da Santa Padroeira.

Dessa forma, duas coisas são postas em questão. A primeira, diz respeito à questão da tradição secular. A procissão de Nossa Senhora da Purificação é conhecida por sua beleza, contemplada pelo grande número de imagens que sai no cortejo. Nos seus “400 anos de Luz” algumas procissões chegaram a contar com mais de 60 andores, segundo registros históricos. Atualmente há uma média entre 20 e 30 andores que saem na procissão, que pertencem às Igrejas locais e da Região, ao Museu Recolhimento dos Humildes e aos fiéis devotos. Entretanto, esse número será reduzido drasticamente em 2013, manchando assim a beleza do cortejo e acabando com antiquíssima tradição popular.

A segunda questão diz respeito à própria mobilização popular para manutenção da tradição. Uma vez que os fiéis não carregam as imagens e não se responsabilizam pelas mesmas durante o cortejo, fica difícil para a Igreja assumir essa responsabilidade sozinha, de fato. Entretanto, há pontos a serem levados em consideração: Porque partir de imediato para o radicalismo? Será que a Igreja, na figura do Monsenhor Walter, tenta compreender o motivo desse fenômeno? Será que há necessidade de romper com uma tradição de forma abrupta ao invés de, por exemplo, substituir imagens de peso absurdo por outras mais leves e menores?

A Igreja tem pregado desde Outubro de 2012 a realização do Ano da Fé. Ora, em pleno século XXI, num tempo que a Igreja Católica vem perdendo devotos em número significativo, será mesmo que a solução é acabar com uma tradição tão forte e característica da simbologia religiosa do povo do recôncavo? É assim que se faz o Ano da Fé? Romper uma tradição secular vai fazer os fiéis se aproximarem de Deus a habitar a Igreja Católica? Perguntar não ofende.

Reflexões a parte, o fato é: 02 de fevereiro, em Santo Amaro, não será mais como antes. E que Nossa Senhora nos proteja e perdoe os pecadores. 

Imagem do Padroeiro do Município, Sr. Santo Amaro

Imagem do Sr. do Bonfim: juntamente com as imagens dos padroeiros da cidade,
deve ser uma das únicas a figurar na procissão do dia 02 de fevereiro.